Na semana passada publiquei um texto sobre as cidades inteligentes. Longe de esgotar o assunto, mas apenas aguçar a curiosidade dos meus leitores sobre as possibilidades futurísticas de um tempo presente, refleti sobre criatividade, tecnologia e o desenvolvimento de cidades capazes de “pensar”..
A “cidade inteligente” é consequente primário da Quarta Revolução Industrial e deve ser vista não apenas como uma cidade próspera em tecnologia e conectividade, mas, especialmente, como um palco para solução dos problemas socioeconômicos basilares que nunca encontraram remédio nas políticas e administrações analógicas (convencionais).
E a nossa Constituição Federal nos garantiu o direito de viver em cidades inteligentes, sendo o desenvolvimento tecnológico das cidades uma obrigação do Estado.
Cidades inteligentes como um dever político, não uma utopia
O art. 182 da Constituição outorga aos municípios a elaboração e execução das políticas de desenvolvimento urbano, através de plano diretor aprovado pelas Câmaras Municipais, com objetivo de “…ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”.
É o município, portanto, o responsável por garantir o pleno acesso a serviços públicos de qualidade, para que o bem-estar de seus habitantes seja uma realidade, não um ideal apenas.
A União e os estados concorrem para a execução de tais políticas, mas o protagonismo é municipal, conforme expresso no texto constitucional e já decidido pelo Supremo Tribunal Federal.
Partindo desta premissa, o desenvolvimento das cidades sob o viés das políticas públicas deve ser orientado, entre outros, mas especialmente no momento histórico em que vivemos, pelo art. 218, §2º, da Constituição Federal, o qual traz a pesquisa tecnológica como instrumento fundamental para a solução dos problemas brasileiros e desenvolvimento produtivo nacional e regional.
O art. 218 determina ao Estado (Federação) a promoção e incentivo ao desenvolvimento tecnológico, pesquisa, capacitação científica e tecnológica e a inovação.
Ao longo de seus 7 parágrafos, fica evidente a diretriz constitucional de aplicação de recursos, capital humano e parcerias público-privadas para a constante inovação como meio de solução de problemas sociais.
Sendo o desenvolvimento urbano competência preponderante dos municípios, fica evidente que projetos de transformação dos municípios em cidades inteligentes deve ser a tônica das Câmaras Municipais e Prefeituras.
Em seu mandato, Eric Garcetti fez disso uma realidade na cidade de Los Angeles, uma das pioneiras na coleta de dados para tornar a cidade um ente pensante.
Ao criar o data.lacity.org, Garcetti deixou bem claro o grande objetivo:
Espero que esses dados ajudem a impulsionar a inovação e a solução de problemas nos setores público e privado e que os cidadãos de Los Angeles os use para compreender mais profundamente e se envolver com sua cidade. Eu o encorajo a explorar data.lacity.org para conduzir pesquisas, desenvolver aplicativos ou simplesmente bisbilhotar.
As ferramentas e formas de governo tradicionais (analógicas) não foram capazes de resolver problemas socioeconômicos basilares como saúde, educação, transporte, eficiência administrativa e financeira.
Da mesma forma, políticos tradicionais que utilizam discursos antigos para fazerem propostas ultrapassadas não terão a competência necessária para tornarem nossas cidades inteligentes.
Então, como podemos ter cidades inteligentes?
O momento é de líderes e tomadores de decisões dotados da habilidade de pensar e liderar exponencialmente, com foco em soluções modernas, disruptivas e que têm a tecnologia como instrumento fundamental.
Embora os olhos do mundo estejam voltados para as eleições presidenciais americanas e, volta e meia, o Governo Federal brasileiro roube a cena com pautas polêmicas, as eleições municipais são, provavelmente, a oportunidade de exercermos a nossa cidadania de forma mais ampla.
É a nossa realidade diária, onde nossas escolhas refletem de maneira direta.
Assim, o voto se torna o ticket que nos garantirá viver em uma cidade inteligente, pois nos permite escolher governantes que incentivam a colaboração, a inclusão e adotam soluções tecnológicas para o CEP em que vivemos.
Por isso, precisamos ser, nestas e nas próximas eleições, extremamente seletivos, pinçando dentre uma massa de pensadores lineares, potenciais líderes exponenciais que possuam projetos de inovação e inclusão digital.
Mais do que isso, precisamos exigir melhores opções de voto, projetos de governo, legislações, e compromisso de execução de promessas de campanha.
A tecnologia nos permite tudo isso, acesso a informação, poder de comunicação e interface com nossos candidatos.
Precisamos pensar e votar exponencialmente, sob pena de continuarmos vivendo em cidades obsoletas e antiquadas.