No longínquo ano de 1990, quando o manual de Oslo ganhou sua primeira edição, nossa sociedade já se preocupava em coletar e interpretar dados sobre o que seria a inovação.
Desde então e, principalmente, agora, enquanto buscamos nos reinventar em meio à crise, e em virtude da exponencialidade tecnológica e consequente mudança de hábitos e costumes, inovação é um termo que salta aos olhos.
Quase sempre esbarramos em algum conteúdo que tenta explicar o que seria e como nossa vida e negócios podem ser impactados pela inovação.
“Como posso inovar minha empresa?” ou “como inovar meu produto ou serviço?” são alguns exemplos de perguntas que estão sendo feitas nesse momento.
O fato é que o mundo está mudando e soluções antigas não resolvem problemas novos.
A inovação, no entanto, parece estar focada em como atualizar o negócio de acordo com a tecnologia e, não, no desenvolvimento de ideias e criação de métodos capazes de provocar uma ruptura paradigmática nos atuais modelos existentes, seja de negócios, produtos ou serviços.
Em outras palavras, ainda estamos confundindo inovação com atualização.
Por ser um termo relativamente vago, inserido no contexto, em geral, ainda incorretamente compreendido do que efetivamente é transformação digital, muitas pessoas acabam acreditando que o simples uso de uma ferramenta tecnológica que, de alguma forma, deu mais fluidez ao desenvolvimento do trabalho pode ser entendido como um processo inovador.
Mas não.
Começar a utilizar a nuvem para gerenciar projetos e equipes, por exemplo, não é inovar.
Essa tecnologia já existe aí há muito tempo. A Netflix migrou todos os seus serviços para a nuvem em 2016, depois de sete anos trabalhando nisso.
Da mesma forma, dizer que você possui um “escritório sem papel”, que seus contratos e documentos são assinados eletronicamente ou que seu escritório passou a prestar serviços de forma remota, não lhe dá o status de inovador.
Isso é mera atualização.
Se você ou sua empresa ainda não adotam este modelo, receio dizer que você está ficando exponencialmente obsoleto.
Então, o que é inovação?
Quando falamos em inovação, logo imaginamos as diversas empresas e startups do Vale do Silício, famosas por desenvolverem e promoverem produtos ou serviços inovadores nos mais variados segmentos.
Contudo, inovação não é exclusividade das gigantes da tecnologia ou das unicórnios e decacórnios, e nem pode ser, pois inovação tem a ver com pessoas.
A inovação não está exclusivamente ligada ao uso de ferramentas digitais no dia a dia da sua empresa, mas, principalmente, ao desenvolvimento de novos produtos, serviços e soluções que sejam capazes de transformar positivamente [criar valor] a empresa, colaboradores e clientes, sempre com responsabilidade social e ambiental, inclusão e colaboração com o ecossistema em que ela está inserida.
O grande desafio, portanto, é utilizar, de forma colaborativa e inclusiva, processos criativos para desenvolver novos métodos organizacionais, novos processos de produção, novas ações de marketing e produtos e serviços cada vez melhores e impactantes para seus clientes.
Sem se esquecer que a retribuição social é muito valorizada, para não se dizer obrigatória, para qualquer pretensão inovadora.
Não basta, portanto, ser uma novidade ou uma simples “invenção”. Inovar significa introduzir algo novo em qualquer atividade, como vetor de desenvolvimento humano e melhoria da qualidade de vida.
Inovar e transformar verdadeiramente o seu negócio não é simplesmente colocar um processo manual dentro de uma ferramenta tecnológica ágil, muito menos criar um programa de hackathon ou participar de um workshop sobre Design Thinking.
É necessário implantar metodologias de inovação dentro do seu negócio.
O Design Thinking é sem dúvida importante ferramenta focada em inovação e desenvolvimento de soluções disruptivas para problemas internos e externos, desde que efetivamente implantado e executado dentro de seu negócio. Sua premissa maior é observar, entender, visualizar ideias, simplificar, aprender rapidamente e utilizar as novas tecnologias para oferecer respostas inovadoras para os problemas – inclusive, jurídicos – das pessoas e negócios, algo que abordarei mais profundamente em um próximo texto.
Inovação tem a ver, portanto, com envolver pessoas, estimular a criatividade, experimentar e entregar valor.
Se atualizar de acordo com as tecnologias que vão surgindo é importante, mas não vai te fazer inovar.
A tecnologia é só um meio, não um fim em si mesma.
Inovação tem a ver com pessoas
Um processo inovador sempre começa com pessoas pensando em pessoas.
Existem inúmeras tecnologias inovadoras que estão sendo desenvolvidas neste exato momento, mas somente as inovações capazes de gerar valores humanos reais e contribuir para o desenvolvimento da sociedade é que irão superar os inevitáveis e cada vez mais rápidos desusos.
Quer um exemplo?
Quando a Google lançou seus óculos de realidade aumentada, o Google Glass, os desenvolvedores esperavam, é claro, revolucionar o modo como as pessoas interagiam com o mundo.
Afinal, o dispositivo permitia acessar informações das redes sociais de alguém que você acabou de conhecer na rua, pesquisar por restaurantes ou pontos turísticos nos arredores ou traçar rotas sem tirar o celular do bolso.
Inclusive, era possível saber quantos escritórios de advocacia ou quais negócios existiam dentro de um determinado prédio comercial.
No entanto, o alto preço e a capacidade de acessar dados rapidamente acabou gerando no público a impressão de que o Glass era um equipamento elitista e também invasivo, diante da possibilidade de acessar informações pessoais, capturar imagens e expor a privacidade das pessoas sem qualquer tipo de consentimento.
As vendas do produto acabaram sendo encerradas pela empresa – pelo menos por enquanto – sem ao menos se popularizar.
Como o seu negócio vai ultrapassar a barreira da atualização e inovar, se não envolver pessoas e criar produtos ou serviço cada vez mais específico para as suas necessidades?
Desde a interação do usuário com o seu produto ou serviço até a implementação de novos métodos organizacionais que melhorem o trabalho da sua equipe interna, o processo tem que ser fácil, intuitivo e acessível em qualquer lugar, sob pena de prejudicar a experiência e o impacto positivo da sua empresa tanto para a equipe quanto para os clientes.
A inovação, portanto, não é uma atualização impulsionada pela internet, mas um processo criativo, transformador, capaz de promover uma verdadeira ruptura paradigmática e impactar positivamente o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas envolvidas.
Conclusão
Acredito que a verdadeira inovação e revolução é a capacidade de criar produtos ou serviços sem perder a sensibilidade dos interesses humanos, independentemente da cultura high-tech de uma empresa.
Novas tecnologias são sempre entusiasmantes e podem otimizar muitos processos, mas a verdadeira possibilidade com a qual devemos nos empolgar é a de transformar a vida das pessoas.
Algumas tecnologias podem cair em desuso ou se tornarem obsoletas e desatualizadas, mas as conexões humanas não.
Por isso, a inovação precisa estar sempre ligada a pessoas.